quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Concreto e cotidiano de SP são mote para desfiles

Alexandre Herchcovitch faz releitura do 'streetwear' usando seda e veludo

Ellus aposta em logos; modelos pintadas de Ronaldo Fraga criticam 'sonambulismo' de moradores das cidades
ANGELA BOLDRINIDE SÃO PAULOPEDRO DINIZCOLUNISTA DA FOLHA
Os principais estilistas e marcas que desfilaram no terceiro dia da São Paulo Fashion Week exploraram indiretamente as imagens e as transformações sociais das grandes cidades em suas coleções de inverno 2015.
O concreto da arquitetura modernista, o cotidiano de uma São Paulo molhada pela chuva e os tipos de humanos que transitam pelas ruas saltaram da passarela de Alexandre Herchcovitch.
A coleção do estilista é caprichada em materiais nobres, como a seda e o veludo, que se contrapõem à releitura elegante do "streetwear" proposto pelo designer.
Capas de chuva sobrepostas a xadrezes que remetem ao punk --movimento que, especula-se, terá retorno glorioso no próximo ano--, vazados quadriculados saídos das janelas dos prédios e uma confusão de cores típicas das metrópoles produziram a imagem mais interessante da temporada até agora.
A grife Ellus também desfilou na manhã de quarta (5) no mesmo local de Herchcovitch: a Praça das Artes, na av. São João, coração do centro da capital paulista.
Na coleção dos estilistas Adriana Bozon e Rodolfo Souza, as pinceladas do artista plástico Stephen Sprouse foram traduzidas em estampas que fazem par com a retomada dos anos 1980 e 1990 proposta pela dupla.
A logomania, explorada na inscrição Ellus São Paulo nas costas das jaquetas e dos vestidos bomber permeou boa parte da coleção.
O viés fetichista, comum à grife paulistana, esteve presente nos tops de fitas de couro um tanto sadomasoquistas e nas estampas de cobra das gangues urbanas.
O mineiro Ronaldo Fraga criticou a verticalização das cidades e o "sonambulismo" de seus moradores.
Pintadas de "vermelho raiva" de stress e com quatro olhos para acompanhar a rapidez do cotidiano, as modelos desfilaram looks com detalhes geométricos, muitos na cor cinza concreto.
Ronaldo criou uma coleção não só para a cliente adepta de suas estampas lúdicas e do trabalho manual dos bordados, mas também para aquelas que frequentam os coquetéis dos centros financeiros das grandes capitais.
Essa mulher moderna curte esportes e cuida do corpo. Nada mais correto do que o esportivo, tendência chave da temporada internacional, surgir na passarela paulistana.
Na coleção do estilista Vitorino Campos, a esportista mergulha no azul profundo da piscina. A cor é o fio que conduz a série de vestidos curtos e os looks elegantes com amarrações na cintura.
O estilista baiano, mestre em construções, aplica transparências no busto e assimetria na barra das saias e cria o "sportswear" mais sensual apresentado nesta estação. Folha, 06.11.2014.