quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Alexander Wang desafia o equilíbrio

A lista de tudo o que o estilista Alexander Wang, 30, não aparenta ser é longa. À primeira vista, ele não passa a impressão de ser uma figura simbólica.
Não tem a aparência de alguém capaz de mudar os padrões vigentes no setor em que atua. Não se parece com o diretor de uma maison parisiense famosa. Não tem jeito de ser alguém que faz malabarismos com grifes, pessoas e responsabilidades.
Ele parece um clubber que se veste de preto. Mas, se a moda nos ensina algo, é que as aparências enganam. Porque Alexander Wang é todas as alternativas acima.
Em 2012, cinco anos depois de inaugurar sua grife própria, que leva seu nome, e virar queridinho da moda em Nova York, Wang chocou o mundo da moda quando também foi nomeado diretor criativo da Balenciaga, tornando-se não apenas o primeiro americano em mais de dez anos a comandar uma maison francesa como o primeiro designer desde a recessão a tentar comandar duas grifes.
Hoje, ele passa seu tempo voando entre Paris e Nova York, morando num apartamento em Manhattan e um hotel cinco estrelas em Paris e alternando-se entre uma empresa familiar e um conglomerado gigante (a Balenciaga pertence ao grupo Kering, também dono da Saint Laurent, da Gucci e da Alexander McQueen).
Com isso, Wang virou foco de uma discussão. "A pergunta é: até que ponto um estilista é capaz de ter duas cabeças?", disse Robert Burke, ex-diretor de moda da Bergdorf Goodman.
No início de sua quarta temporada no comando de duas grifes, Wang também começou a criar uma coleção para a H&M. "Para fazer isso tudo funcionar, tem sido importante aprender a me desapegar", comentou recentemente.
De um lado estão aqueles para quem concentrar-se em uma maison apenas é a melhor maneira de garantir o sucesso. Em outubro, Marc Jacobs deu fim a 16 anos de Louis Vuitton para concentrar-se em sua marca própria.
A Hermès escolheu seu primeiro diretor artístico de moda feminina em 14 anos para não ter outra grife e Riccardo Tisci, que fechou sua grife própria quando foi trabalhar para a Givenchy, em 2005.
Do outro lado, estão nomes mais jovens que, como Wang, pensam que dois pode ser melhor que um. Jonathan Anderson, que completa 30 este mês, foi nomeado diretor criativo da Loewe no fim de 2013 e conservará sua grife própria.
Jason Wu, 31, com sua própria marca, foi nomeado diretor criativo de moda feminina da Hugo Boss em 2013, e Jeremy Scott, 39, que no ano passado assumiu a Moschino além de sua grife.
Os membros do grupo novo simplesmente são jovens demais para conhecer seus limites? Ou estará ocorrendo uma mudança fundamental de paradigma?
"No primeiro momento, senti medo, é claro", disse Wang. "Quando a Kering me procurou, num primeiro momento eu disse 'não'. Quando comecei a pensar seriamente no assunto, ninguém me falou que eu estava louco, mas que eu precisaria me proteger."
Alexander Wang foi criado em San Francisco e abandonou a Parsons the New School for Design em 2007, depois de dois anos, para criar seu próprio negócio, que desde então cresceu e passou a incluir moda masculina e uma linha menos cara, a T by Alexander Wang.
"O mais importante é ter uma visão muito forte e saber articular essa visão", comentou Simon Collins, diretor de moda na Parsons. "Se você vai trabalhar em duas maisons, não pode colocar-se simplesmente como observador, assistindo à evolução delas."
O estilista Michael Kors, que entre 1997 e 2004 também foi diretor criativo da Célina, opinou: "O que é preciso é sobretudo resistência".
Num primeiro momento o mundo da moda especulou que a contratação de Wang pela Balenciaga assinalaria que a marca de alta-costura ia "descer de seu pedestal altivo", como escreveu Suzy Menkes no "International New York Times".
François-Henri Pinault, o executivo-chefe da Kering, disse que foi exatamente a diferença entre a grife de Alexander Wang e a Balenciaga que fez a empresa voltar sua atenção ao estilista.
"Analisamos com cuidado se as grifes eram compatíveis ou competitivas. Vimos a grife dele como sendo tão diferente, em termos de mercado e identidade criativa, que não seria um problema."
Na verdade, a impressão que se tem é que o acesso de Wang ao ateliê e às fábricas da Balenciaga refinou sua grife própria; sua última coleção foi nitidamente mais sofisticada que as anteriores. 
É possível que Wang decida que, para sua marca explodir, ele precisa dedicar-se a ela com exclusividade. Ou então que ele precisa de um tipo de equilíbrio diferente.
"Pode ser que em algum momento eu queira ter mais vida pessoal", ele disse, "ou que eu pense 'não aguento mais embarcar em aviões', mas não defini um limite. Quando penso em parar e voltar a fazer apenas Wang...". Ele fez uma pausa. "Não sei como eu faria. Não consigo imaginar." 

Nenhum comentário:

Postar um comentário