quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Internautas mostram estilos do hijab

Por HANNAH SELIGSON

Alguns anos atrás, Ascia Farraj ficava frustrada ao acompanhar a blogosfera da moda. Como islâmica que usa o véu conhecido como hijab, ela raramente via alguém com quem se identificasse. Apaixonada pela moda em uma cultura conservadora, decidiu criar um blog próprio.
Hoje, Farraj, 24, tem quase 900 mil seguidores em sua conta do Instagram, ascia_akf, que acompanham seus modelos de roupas com muito estilo, mas discretas, de marcas como Diesel e BCBG (alguns dos posts são patrocinados por empresas no Kuait, onde mora).
Não faz muito tempo, era considerado radical que uma mulher muçulmana postasse sua foto on-line, disse Farraj. "Fui uma das primeiras blogueiras com foco em estilo pessoal a mostrar o rosto."
De acordo com o Alcorão e a Suna, as mulheres têm de cobrir o corpo e só podem mostrar mãos, pés e rosto.
Mas algumas jovens decidiram que austeridade não significa ficar fora de moda. As redes sociais, e o Instagram em particular, são uma oportunidade de conseguir uma fatia do espaço da moda reservado a quem expõe mais a pele ou usa roupas coladas no corpo.
"Um monte de garotas muçulmanas que usavam o hijab cansaram de ouvir que não podiam estar na moda ou que tinham mesmo de ser deselegantes ou não ter muitos cuidados ao se vestirem", disse Melanie Elturk, 29, fundadora do Haute Hijab, empresa de Chicago que tem uma página no Instagram repleta de mulheres sorridentes usando lenços brilhantes, e de modo algum parecendo deselegantes.
Yasemin Kanar, 25, blogueira de moda e empresária criada em Miami, tem vídeos sobre hijabs que já foram vistos mais de 1 milhão de vezes. Sua conta no Instagram, YazTheSpaz89, tem mais de 77 mil seguidores.
"As pessoas hoje estão tentando se destacar com seu estilo", disse Kanar, que estudou biologia na Universidade Internacional da Flórida. "Elas não querem parecer umas com as outras."
O hijab costumava ser visto no Ocidente de forma a alimentar controvérsias e conduzir ao estereótipo das mulheres muçulmanas como oprimidas. O Instagram parece mudar a discussão ao focar na estética do véu.
"Dez anos atrás, se você dissesse que estava usando um hijab por questão de moda, as pessoas iriam rir de você", disse Zulfiye Tufa, 24, fundadora do Hijab Stylist, com sede em Melbourne, na Austrália, e que planeja introduzir uma linha própria de moda no último trimestre deste ano.
Todos os dias Tufa posta um "selfie" com hijab para seus mais de 16 mil seguidores no Instagram. "As pessoas costumavam sentir pena de nós e pensavam que devíamos estar com vergonha de nós mesmas por termos de nos cobrir", disse ela.
"Mas agora elas veem todas essas fotos em que estamos sorrindo e parecendo felizes e na moda, e compreendem que ele não é um sinal de opressão."
Mas há tensões entre a moda e a fé. Ao postar suas fotos, Kanar, como outras blogueiras do hijab, se tornou um alvo no debate sobre moda e religião. Um comentarista disse a Kanar que ela deveria ficar em casa com o marido em vez de ir para a internet.
Souheila al-Jadda, 39, editora do "The Islamic Monthly", situa a explosão do hijab nas redes sociais num meio termo entre os valores americanos e os muçulmanos. "Como você concilia os dois?" ela pergunta. "Isso é algo que as pessoas jovens terão de dimensionar."
Por ora, algumas dizem que o Instagram as protege de ataques violentos em termos de julgamento moral, porque a geração mais velha não se inseriu plenamente nessa rede social do mesmo modo que no Facebook. "Os idosos não sabem o que acontece no Instagram", disse Elturk. NYT, 23.09.14

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